segunda-feira, 29 de agosto de 2022

4. Mevial chega à Vida

 


O momento em que Mevial se atirou da glória celeste para o seu teste na Terra foi realmente marcante. Sem dar nem tempo para perceber, viu-se longe do céu e agora, sem ter mais a visão de tudo à sua volta, estava num lugar escuro, pequeno, apertado e molhado. Surpreendia-se com todas aquelas sensações proporcionadas pelos sentidos da matéria.

Em sua memória, ainda restavam flashes de um céu, de uma glória, de um imenso exército celestial adorando o Soberano. Mas, aos poucos, estes flashes ficavam mais e mais apagados, tornando-se vislumbres distantes, até desaparecerem por completo.

Neste exato momento, em que todas estas lembranças e imagens apagavam-se de seu ser, passou a sentir coisas diferentes. Não mais lembrava das batidas dos instrumentos de percussão do céu, mas passou a sentir, dentro de si, uma batida ritmada que, não sabia ele naquele momento, mas o acompanharia por toda sua vida. Neste exato momento em que todas as lembranças da eternidade, após 3 ciclos de 7 dias foram apagadas da sua memória, neste exato momento passou a sentir uma batida ritmada, dentro de si, como se fosse, realmente, um compasso de ritmo que o acompanharia. Seu coração, na formação de sua vida na matéria, começara a funcionar. Passara a ter então sensações que antes jamais havia sentido: molhado por fora, quente e aconchegante por dentro, passou a viver as sensações de estar num corpo físico. Limitado em diversos aspectos, mas com novas e diferentes sensações, que nunca sentira, possíveis apenas com a ajuda da matéria.

Começou a tentar entender e desvendar o que era aquilo tudo. Nunca havia estado em um corpo material. Também não se lembrava mais do que era ser um ente celestial, eterno e vivendo as glórias do céu. Agora precisava decifrar o que significava aquela nova realidade.

Aos poucos, à medida que se formava esse corpo, ainda informe, que nem ossos tinham ainda, ia percebendo e descobrindo novas e incríveis sensações. Em pouco tempo, após sentir o ritmo da batida do seu coração, o líquido na sua pele, o calor circulando dentro de si, passou também a poder mexer membros e tocar o pequeno mundo ao seu redor.

Pensou, neste momento que tinha uma vida para viver ali e que precisava explorá-la para entender tudo o que estava acontecendo. À medida que o tempo passava, um turbilhão de sensações e emoções se acumulavam dentro de si. Sons chegavam até ele, vindo de algum lugar desconhecido e, aparentemente distante. Juntaram-se ao ritmo de suas batidas, agora melodias e harmonias, palavras e sussurros, os quais ele não entendia nem sabia o que significavam, mas que os podia sentir e perceber. Sabia que vinham de um lugar distante, mas não sabia de onde.

Começou também a perceber que podia tocar o mundo ao seu redor. E, percebendo isso, em algum momento tocou sua própria perna, percebendo que podia interagir consigo mesmo. Iam-se formando seus membros, capacidades de sentir, ouvir. Passou a poder enxergar brilho com novos instrumentos que ficavam à frente de seu rosto e também poder ingerir líquido através do orifício que seria sua boca.

À medida que se formava, preparando-se para uma outra fase, quando veria a luz externa e poderia interagir com outros seres, pensava ele que aquela vida que tinha naquele pequeno local era tudo o que lhe aguardava nesta nova experiência. Procurava entender como usar seus braços, pernas, mãos e pés. Procurava distinguir sons e imagens, mas tudo era bastante indefinido e opaco. Pensava consigo mesmo: que vida interessante. Preciso aprender a usar melhor todos estes instrumentos, porque não me dão muitas informações. Pensou que talvez estivesse usando todas as suas qualidades e capacidades da forma errada.

E crescia. Como crescia rápido. Em um período de 9 meses atingiu um tamanho milhões de vezes maior do que quando iniciou esta jornada. Junto com este estrondoso e célere crescimento, vieram muitos aprendizados, para que seu novo corpo pudesse realizar todas as tarefas necessárias.

Lames, seu amigo que agora estava acompanhando ele de perto, observando toda esta desenvoltura, não podia deixar de se maravilhar e perceber como o Soberano havia sido pródigo em fornecer recursos, experiência, dons e tantos presentes para que seus companheiros pudessem passar por este teste. Mesmo com a dureza do teste, Lames extasiou-se em ver a bondade e misericórdia do Soberano em proporcionar aos humanos tamanha gama de possibilidades e experiências, para que pudessem escolher seu caminho e retornar à original habitação. Pena que muitos humanos demorassem tanto para perceber a grandiosidade disso que o Soberano lhes havia dado: a VIDA. E outros sequer perceberiam isso, mesmo vivendo toda a esta vida, por muito tempo.

Mevial não sabia que aquele era um momento de preparo para uma nova fase de sua vida. Pensou que era ali, naquele lugar, o destino final de toda sua existência. Que teria de usar todos os seus membros naquele pequeno espaço. Mas, à medida que crescia não conseguia mais esticar os braços. Passaram a ficar encolhidos. Apertados. Às vezes, quando tentava um pouco mais e forçava os limites da sua habitação, sentia que vinha uma repreensão vinda de fora, como que ordenando que parasse de tentar se esticar.

Então, por um momento, parava.

Mas o espaço estava ficando realmente pequeno. E ele não mais conseguia ficar ali. Não adiantava tentar expandir o tamanho desta sua habitação porque, aparentemente, ela não aumentaria mais, apesar de todas as suas tentativas. Começou a ficar um tanto sufocado e pensar que era hora de sair dali, que naquele espaço não havia mais espaço para ele.

Então, num momento em que buscava esticar-se, encontrar a saída, percebeu que sua própria habitação o empurrava para fora.

Pensou consigo mesmo: “eles querem me expulsar daqui”.

E, não só queriam, mas faziam força para que ele saísse.

Finalmente, embora ele pensasse que aquele seria o local de sua vivência, que tudo viveria dentro daquele pequeno espaço, percebeu que era apenas um local de transição, de passagem. De preparo. Não era definitivo.

Então saiu. Ou melhor, foi empurrado para fora.

Viu a luz sem a opacidade de antes, mas brilhante e clara. Ouviu sons nítidos e altos. Sentiu o toque na sua pele, muito mais intenso do que sentia antes.

Sentiu o ar enchendo seus pulmões. E chorou.

Agora sim, estava no local onde viveria sua vida, o local definitivo. Tinha muito mais luz, muitos outros seres, um espaço que parecia infinito ao seu redor.

Mas perceberia, embora demorasse mais do que os 9 meses do tempo vivido no espaço anterior, que essa nova vida também não seria definitiva.

Era transitória. Uma passagem. Perceberia depois que havia ainda um outro lugar depois disso. Esse sim eterno, ilimitado, infinito, glorioso. Mas isso demoraria um pouco para perceber.

No momento, importava apenas o fato de iniciar esta nova jornada.

Tinha nascido. Tinha vindo à luz. E iniciaria uma aventura sem precedentes.


Lucas Durigon


Esta  é uma obra de ficção. Iniciada em 07/08/22.

https://tapecariadepalavras.blogspot.com/2022/08/a-descida.html


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