segunda-feira, 10 de outubro de 2022

10. O Discurso

 


O perverso, de repente, com todas as estrelas de Deus que juntas rejubilavam no céu, formando o séquito de seguidores do soberano, tomou a palavra e a todos convocou para o ouvir.

Deus, o soberano, o eterno e onisciente sabia de seus planos, mas não poderia permitir que aquilo ficasse sem se revelar, porque não poderia permitir que lúcifer continuasse com aquilo em seu íntimo, agindo sorrateiramente, sem revelar, porque sua revelação iria também expor todos aqueles que, juntamente com o líder, não tinham o coração integralmente voltado para o Soberano, e isso faria com que desejassem se rebelar contra o soberano, mas mostraria sua verdadeira intenção.

Ora, o soberano tinha a autoridade para revelar tudo o que oculto estava no coração e na mente de cada um dos seus anjos, querubins e serafins, de cada um do seu exército celestial, mesmo os pensamentos escondidos, aqueles que sequer haviam subido à tona da consciência de cada um, o senhor onisciente já conhecia.

Mas não fazia parte do código de justiça que fossem julgados, condenados ou mesmo colocados sob suspeita sem que manifestassem de forma explícita todas as suas intenções. A intenção é a semente do ação, quer boa ou má, mas não pode ser julgada, segundo o código da eterna justiça. Enquanto há apenas intenção, a chance de mudança ainda existe. A intenção pode ser controlada e subjugada pela consciência plena do ser e pode ser alterada, conforme os códigos daquilo que é certo e errado, do que é justo e injusto, do que é leal ou desleal para com o criador. Por isso, o soberano não iria condenar alguém apenas pela sua intenção, embora ela fosse juntada à ação para agravar ou atenuar a realidade da ação.

Mesmo sabendo de todas as intenções, era necessário que naquele momento fosse permitido ao perverso manifestar estas intenções a fim de testar cada um ali presente e dar-lhes a oportunidade de negar o chamado da sedução do perverso, mantendo-se fieis ao Soberano.

Mas Lúcifer sabia, quando iniciou seu discurso, que sua audiência já tinha ouvido o bastante e suficiente para estar inclinada a aceitar sua proposta. Na sua obstinação, estava seguro de que todo o séquito celestial aceitaria sua proposta e se uniria a ele em sua rebelião.

Era uma obstinação bastante ousada.

Quando todos os seres angelicais estavam reunidos para o ouvirem, ele começou:

– Companheiros servos celestiais, ouçam-me. Sei que todos aqui têm prestado um serviço excelente ao Soberano, mesmo sob meu comando, e temos oferecido, por centenas de milênios, adoração àquele que se assenta sobre o trono celestial. Em todo este tempo, o Soberano tem recebido a adoração e tem governado, de seu trono, todo o séquito angelical e mantido a ordem em nossa habitação com mão forte.

Quando iniciou seu discurso, por todos os lados, em todos os cantos da habitação celeste, os seres angelicais pararam para o ouvir e ficaram muito surpresos com a introdução deste discurso. Não percebiam a costumeira sinceridade que deveria haver no tom de voz de quem traz estes tipos de palavras. Antes, as palavras ali ditas tinham o tom de bajulação vazia e interesseira. Ficaram então curiosos pela continuidade do que Lúcifer, o querubim ungido de luz, seu líder no louvor por tanto tempo, viria ainda a dizer. Ele continuou:

– Mas precisamos entender que nossa consciência nos chama a escolhas e, como sabemos que o Soberano é justo e amoroso, certamente não nos negará a chance de dizermos o que pensamos e desejamos, pois como pai amoroso, ele nos dará o que pedimos.

Para alguns seres angelicais, o rumo deste discurso começou a incomodar e a trazer uma certa inquietação, sensação que nunca haviam experimentado, desde que foram criados. Este incômodo começou a traduzir-se em vigilância, pois começaram a perceber que Lúcifer não agia como dantes e que algo mudara em sua atitude, e não parecia bom. Outros não percebiam nada, nem se inquietaram. Mas havia aqueles que se viam representados neste discurso, pois não estavam totalmente satisfeitos em como as coisas estavam sendo conduzidas no céu e sabiam que Lúcifer, nos últimos tempos, havia implantado uma forma muito mais interessante de liderá-los nas tarefas, reconhecendo seu trabalho e dando-lhes também recompensas pelo que faziam, o que muito lhes agradava. Mas Lúcifer continuou:

– Por tanto serviço que temos prestado, acredito que merecemos reconhecimento e, em particular, acredito que eu tenho feito um ótimo trabalho em dar-lhes parte deste reconhecimento.

Era isto mesmo. Para surpresa de todos, o querubim ungido estava se comparando ao Soberano. Era inacreditável, mas estava acontecendo. Queria concorrer com ele no gosto dos seres angelicais pelos elogios que estava distribuindo aos que executavam suas tarefas. Isso era satisfatório para alguns, que sentiam-se como se nunca tivessem sido reconhecidos e preocupante para outros que viam no andamento deste discurso uma posição muito perigosa, em desafiar a soberania do criador.

– Precisamos ser reconhecidos pelo nosso trabalho e o soberano parece que se esqueceu disso. Eu proponho a todos aqui que me sigam e possamos ser os senhores do nosso próprio destino. Que todos escolham uma nova liderança para que possamos viver novos tempos, de reconhecimento pelos serviços prestados. Unam-se a mim e vamos reinar, no Trono do Soberano.

Quando Lúcifer deixou claro qual era sua intenção sem meias palavras, um grupo já estava pronto para lhe seguir e outro, estupefato com a ousadia do querubim, pronto para lhe deter e ao grupo que com ele seguisse.

Tão logo Lúcifer disse:

– Venham!

Neste mesmo instante, um grupo brandiu suas espadas, ao lado de Lúcifer. Outro, junto com Miguel, também levantou suas espadas para defender o Trono do Soberano.

E no mesmo e exato instante, a Trindade Santa, em uníssono, decretou:

– Parem!


Lucas Durigon





Esta  é uma obra de ficção. Iniciada em 07/08/22.

https://tapecariadepalavras.blogspot.com/2022/08/a-descida.html


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