segunda-feira, 10 de outubro de 2022

10. O Discurso

 


O perverso, de repente, com todas as estrelas de Deus que juntas rejubilavam no céu, formando o séquito de seguidores do soberano, tomou a palavra e a todos convocou para o ouvir.

Deus, o soberano, o eterno e onisciente sabia de seus planos, mas não poderia permitir que aquilo ficasse sem se revelar, porque não poderia permitir que lúcifer continuasse com aquilo em seu íntimo, agindo sorrateiramente, sem revelar, porque sua revelação iria também expor todos aqueles que, juntamente com o líder, não tinham o coração integralmente voltado para o Soberano, e isso faria com que desejassem se rebelar contra o soberano, mas mostraria sua verdadeira intenção.

Ora, o soberano tinha a autoridade para revelar tudo o que oculto estava no coração e na mente de cada um dos seus anjos, querubins e serafins, de cada um do seu exército celestial, mesmo os pensamentos escondidos, aqueles que sequer haviam subido à tona da consciência de cada um, o senhor onisciente já conhecia.

Mas não fazia parte do código de justiça que fossem julgados, condenados ou mesmo colocados sob suspeita sem que manifestassem de forma explícita todas as suas intenções. A intenção é a semente do ação, quer boa ou má, mas não pode ser julgada, segundo o código da eterna justiça. Enquanto há apenas intenção, a chance de mudança ainda existe. A intenção pode ser controlada e subjugada pela consciência plena do ser e pode ser alterada, conforme os códigos daquilo que é certo e errado, do que é justo e injusto, do que é leal ou desleal para com o criador. Por isso, o soberano não iria condenar alguém apenas pela sua intenção, embora ela fosse juntada à ação para agravar ou atenuar a realidade da ação.

Mesmo sabendo de todas as intenções, era necessário que naquele momento fosse permitido ao perverso manifestar estas intenções a fim de testar cada um ali presente e dar-lhes a oportunidade de negar o chamado da sedução do perverso, mantendo-se fieis ao Soberano.

Mas Lúcifer sabia, quando iniciou seu discurso, que sua audiência já tinha ouvido o bastante e suficiente para estar inclinada a aceitar sua proposta. Na sua obstinação, estava seguro de que todo o séquito celestial aceitaria sua proposta e se uniria a ele em sua rebelião.

Era uma obstinação bastante ousada.

Quando todos os seres angelicais estavam reunidos para o ouvirem, ele começou:

– Companheiros servos celestiais, ouçam-me. Sei que todos aqui têm prestado um serviço excelente ao Soberano, mesmo sob meu comando, e temos oferecido, por centenas de milênios, adoração àquele que se assenta sobre o trono celestial. Em todo este tempo, o Soberano tem recebido a adoração e tem governado, de seu trono, todo o séquito angelical e mantido a ordem em nossa habitação com mão forte.

Quando iniciou seu discurso, por todos os lados, em todos os cantos da habitação celeste, os seres angelicais pararam para o ouvir e ficaram muito surpresos com a introdução deste discurso. Não percebiam a costumeira sinceridade que deveria haver no tom de voz de quem traz estes tipos de palavras. Antes, as palavras ali ditas tinham o tom de bajulação vazia e interesseira. Ficaram então curiosos pela continuidade do que Lúcifer, o querubim ungido de luz, seu líder no louvor por tanto tempo, viria ainda a dizer. Ele continuou:

– Mas precisamos entender que nossa consciência nos chama a escolhas e, como sabemos que o Soberano é justo e amoroso, certamente não nos negará a chance de dizermos o que pensamos e desejamos, pois como pai amoroso, ele nos dará o que pedimos.

Para alguns seres angelicais, o rumo deste discurso começou a incomodar e a trazer uma certa inquietação, sensação que nunca haviam experimentado, desde que foram criados. Este incômodo começou a traduzir-se em vigilância, pois começaram a perceber que Lúcifer não agia como dantes e que algo mudara em sua atitude, e não parecia bom. Outros não percebiam nada, nem se inquietaram. Mas havia aqueles que se viam representados neste discurso, pois não estavam totalmente satisfeitos em como as coisas estavam sendo conduzidas no céu e sabiam que Lúcifer, nos últimos tempos, havia implantado uma forma muito mais interessante de liderá-los nas tarefas, reconhecendo seu trabalho e dando-lhes também recompensas pelo que faziam, o que muito lhes agradava. Mas Lúcifer continuou:

– Por tanto serviço que temos prestado, acredito que merecemos reconhecimento e, em particular, acredito que eu tenho feito um ótimo trabalho em dar-lhes parte deste reconhecimento.

Era isto mesmo. Para surpresa de todos, o querubim ungido estava se comparando ao Soberano. Era inacreditável, mas estava acontecendo. Queria concorrer com ele no gosto dos seres angelicais pelos elogios que estava distribuindo aos que executavam suas tarefas. Isso era satisfatório para alguns, que sentiam-se como se nunca tivessem sido reconhecidos e preocupante para outros que viam no andamento deste discurso uma posição muito perigosa, em desafiar a soberania do criador.

– Precisamos ser reconhecidos pelo nosso trabalho e o soberano parece que se esqueceu disso. Eu proponho a todos aqui que me sigam e possamos ser os senhores do nosso próprio destino. Que todos escolham uma nova liderança para que possamos viver novos tempos, de reconhecimento pelos serviços prestados. Unam-se a mim e vamos reinar, no Trono do Soberano.

Quando Lúcifer deixou claro qual era sua intenção sem meias palavras, um grupo já estava pronto para lhe seguir e outro, estupefato com a ousadia do querubim, pronto para lhe deter e ao grupo que com ele seguisse.

Tão logo Lúcifer disse:

– Venham!

Neste mesmo instante, um grupo brandiu suas espadas, ao lado de Lúcifer. Outro, junto com Miguel, também levantou suas espadas para defender o Trono do Soberano.

E no mesmo e exato instante, a Trindade Santa, em uníssono, decretou:

– Parem!


Lucas Durigon





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segunda-feira, 3 de outubro de 2022

9. Escolhas

 


Vida e morte. Trevas e Luz. Bom e mau. Bem e mal.

Em tudo, a escolha é sempre intrínseca. Está ali. Sempre.

Pode parecer que não, como pareceu aos anjos, durante centenas de milênios, vivendo a plenitude da bondade do soberano. Em certos momentos, quando o que se está vivendo é apenas um lado desta escolha, quando se vive por muito longo tempo apenas um lado da realidade, pode parecer que o outro lado nem existe.

Afinal, todos que vivem em guerra por um tempo muito longo, parece que já perderam a esperança da paz, que não acreditam mais em qualquer outro tipo de realidade.

E a falta de esperança pode roubar a força de viver.

Da mesma forma, se alguém viver apenas em prosperidade, amor e paz por longo tempo, sem qualquer adversidade, pode confiar e acreditar tanto nesta realidade que parece não existir o outro lado.

E pode baixar a guarda e não mais vigiar para manter seu estado.

O outro lado está sempre ali. À disposição. Esperando nossa escolha. Podemos escolher mudar ou manter nossa posição.

Depois que o Criador trouxe à existência seu exército celestial, numeroso em extremo, queria estabelecer um relacionamento com cada um deles, um relacionamento de pai, amigo, senhor, mestre. E, como todo relacionamento que precisa ser estabelecido por livre e espontânea vontade e nunca por força ou violência, pois não seria verdadeiro, então também é necessário que exista a opção de não querer o relacionamento.

Se a única opção possível é a de se manter num relacionamento por força, não por escolha, então isso não é mantido pelo amor e vontade, nem pela escolha. Mas o seria pela força, se não houvesse outra opção. O simples fato de não haver outra opção demonstra a imposição da escolha por parte de quem criou a situação.

Por isso mesmo, desde o início, a escolha de abandonar a Deus e escolher não manterem-se no céu sempre estiveram presentes.

Mas o Criador quis, antes de oferecer a eles a escolha, mostrar-lhes os benefícios de sua presença e bondade, de seu amor. Sem conhecer todos estes benefícios, também não seria justo que fossem submetidos à escolha e a provação, pois não teriam conhecido suficientemente os benefícios do amor de Deus, nem vivido essa realidade o suficiente para encher seus corações da convicção de ser esta a melhor escolha.

Mas nenhum deveria estar no céu apenas porque foi ali criado. O Senhor sempre quis que cada um ficasse ao lado dele por sua própria vontade. Por expressão plena do amor correspondido. Pela alegria de compartilhar um relacionamento, não pela obrigação de estar nele, muito menos pela falta de escolha ou de opção. Se, mesmo com alguma ou muitas opções para sair daquele relacionamento, eles escolhessem ficar, então significava que seus corações estavam realmente aliançados, realmente conectados pela fidelidade e vontade própria. Neste caso, estar juntos e compartilhar o mesmo céu era um prazer, mais um benefício e prêmio para viver nesta situação. A própria convivência com quem se ama e se escolhe e quer estar junto é um benefício para quem isso escolhe. Do contrário, quando não se quer, a união se torna um fardo.

Para corações cheios de ingratidão e cegos aos benefícios que tiveram, parecia sempre que o outro lado, que a outra opção é mais vantajosa.

Mas era necessário ter uma opção.

Se não houvesse a outra opção: a de sair, de abandonar, de negar aquela existência, então seria porque aquela existência era a única possível, não seria fruto da livre escolha. E, se fosse algo forçado, não seria fruto do amor e do querer. Seria simplesmente imposição. E o amor do Soberano Criador não é assim. Ele não criou os seres para lhe amarem por imposição, por força ou poder. Mas sim por livre e espontânea vontade. Guiados, sim, pelo Espírito que daria e mostraria a eles todos os benefícios de escolher permanecer com o criador e, em contrapartida, as consequência de escolher abandoná-lo.

Mas a escolha é essencial para validar o amor.

Houve um momento, em que a outra opção foi apresentada aos seres celestiais, mesmo depois de centenas de milênios experimentado a alegria, paz, amor e bondade plenos, ofertados pelo Soberano, mesmo assim em um determinado momento eles foram apresentados a uma escolha e a tiveram de fazer.

Apesar de existir este momento crucial quando a escolha precisa ser feita, ela não foi, em verdade, apresentada de repente, como se nunca houvesse estado no coração dos seres angelicais. A escolha final foi alimentada por escolhas menores, de tempos em tempos. A cada vez que um anjo, arcanjo, querubim ou sefarim resolveu alegrar-se com os elogios dados por Lúcifer, a acalentar em seu interior as dúvidas que o anjo de luz lhes apresentava, a deixar o orgulho invadir seu interior e permitir que cada semente dessas tivesse campo fértil para crescer na sua mente, então a cada momento desses, era feita uma escolha. Eram pequenas escolhas, mas que alimentaram e prepararam o alicerce para a escolha final. Essa foi a estratégia do Perverso. E cada um escolheu segui-la. Ou não. E, assim, uma escolha pequena de cada vez, levaram todos eles para a escolha definitiva. Os corações estavam preparados, conforme as pequenas escolhas feitas. Talvez pudessem ainda ter tido a lucidez de escolher clara e conscientemente o melhor, quando a escolha final lhes foi apresentada.

Mas nem todos escolheram o melhor.


Lucas Durigon


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segunda-feira, 26 de setembro de 2022

8. A Rebelião

 

O anjo rebelde, conhecido como Lúcifer, um anjo de luz no céu antes de sua rebelião, tornou-se o inimigo de todos os que vieram a habitar a terra, passando também a se chamar Satanás, o inimigo, porque passou a odiar todos os que relutaram em seguir sua rebelião consigo.

O anjo rebelde, o perverso, concluiu erroneamente que se aquele 1/3 que relutou em seguir suas seduções tivessem se juntado imediatamente ao grupo que seguiu-o sem relutar, ele poderia então vencer as hostes celestiais que permaneceram fieis ao soberano e então conseguiria tomar o trono daquele que é Eterno, Criador e Sustentador de todas as coisas.

Sua arrogância e obstinação o cegavam, ao ponto de esquecer que o soberano detém todo o poder e jamais, em qualquer circunstância, ele poderia conseguir tal intento.

O soberano sequer foi pego de surpresa com sua rebelião e com aquele momento em que Lúcifer, o perverso, tentou arrebatar os guerreiros celestiais para seu lado, com sua sedução. O Deus trino e Eterno sabia exatamente o que se passava no coração dele e todos os preparativos que fez até chegar o crucial momento. Mas, jamais antes na eternidade, sua criação havia passado por um momento como esse. Jamais haviam sido desafiados e seduzidos. Jamais haviam experimentado a provação e a necessidade de tomar uma posição.

E o Eterno julgou ser necessário que isso acontecesse, uma vez que ao serem questionados, todos os seres angelicais criados por Ele poderiam expor o que havia dentro de seu ser: se fidelidade, se rebeldia, se hesitação.

Era necessário proporcionar este teste para dar a eles a chance de mostrar e provar o que havia dentro de si. Não para que o Eterno Soberano soubesse, mas sim para que cada um soubesse de si mesmo, quem realmente eram e a quem eram fieis.

Foi por isso que, quando Lúcifer iniciou sua rebelião, o soberano não a impediu. Queria trazer à luz e deixar claro o real caráter e conteúdo do ser de cada um. E isso só poderia acontecer se fossem questionados, se fossem desafiados, se fossem provados.

Mas esse pensamento não surgiu na mente de Lúcifer de repente. Ele coordenava os louvores da criação celeste perante o soberano por centenas de milênios. E, por todo este tempo servindo ao soberano e recebendo as graças de Sua presença, seu coração já deveria estar o suficiente firme no propósito de se manter fiel ao Criador. Mas, se mesmo depois de tanto tempo recebendo o amor e a bondade do Soberano, o Perverso foi capaz de acumular estes sentimentos e ideias dentro de si, é porque não importa quanto tempo passasse, o que estava no seu coração, em algum momento viria à tona.

Ele mesmo dava glórias e honras ao soberano. Continuamente. Durante uma boa porção da eternidade.

O amor e a bondade do soberano retornavam para seus adoradores, que conheciam a plenitude do amor e da alegria enquanto adoravam.

O querubim ungido liderava isso e começou a sentir-se especial, pois era ele quem criava as melodias, os ritmos, as harmonias que honravam a cada um dos entes da trindade, a fim de oferecerem o que tinham dentro de si em resposta ao amor recebido. Esse sentimento de sentir-se especial começou a inclinar-se para um sentimento de superioridade, de arrogância.

Começou a pensar que merecia um tratamento especial, um prêmio especial em troca do que fazia. Começou a imaginar que a eternidade, o amor recebido, a glória celeste da qual pertencia junto com todos os outros não mais eram suficientes para retribuir todos os seus serviços prestados ao Soberano trino.

Afinal de contas, ele fazia mais e melhor do que muitos seres celestes ali presentes, pensava. Não viu, nesta posição que lhe fora confiada, por si só, um motivo a mais de alegria e honra. Mas passou a pensar que essa posição, ao invés de ser, por si só, um privilégio e uma honra, era algo que fazia e que deveria receber, a seu ver, uma recompensa por parte do Soberano em troca do que fazia.

Esse foi o início do seu erro. Não afastou essa ideia. Mas alimentou-a.

Ele fazia. E agora buscava fazer cada vez melhor. Mas não porque queria melhorar, cada vez mais, seu serviço ao Soberano, em troca da alegria de poder habitar a glória celeste. Ele agora buscava chamar a atenção do Soberano apresentando cada vez mais um serviço primoroso, com a intenção de que, em algum momento, recebesse um prêmio pelos seus serviços.

Mas o Soberano continuou como sempre: dar-lhes seu pleno amor, a alegria, a glória celeste, uma família no céu que proporcionasse a cada um deles o privilégio da confraternização, da convivência e comunhão com vários seres celestiais e com o próprio criador. Ou seja, riquezas indizíveis que sempre estiveram à sua disposição.

Mas tudo isso, aos poucos, foi se tornando insuficiente para Lúcifer. Ele começou a se achar especial e merecedor de algo a mais. Também passou a ver o que não tinha, no lugar de ver o que tinha. Em vez de agradecer e ser plenamente feliz por ter sido criado para habitar tão grande glória celeste, passou a ver que lhe faltava o trono, o domínio. Pensou que seria melhor se, ao invés de liderar os seres angelicais em adoração ao Soberano, seria mais feliz se os próprios seres angelicais direcionassem a adoração a ele.

Passou a observar tudo o que o soberano havia reservado para Si mesmo e passou a desejar isso. A desejar ter o que o Soberano tinha. Não lhe era mais suficiente o ter sido criado e receber todas essas honras, a ter acesso ao convívio da Sala do Trono, a ser amado e ter plena alegria. Mas queria, ele mesmo, ser o controlador disso tudo. Não queria mais liderar o coral angelical, em cumprimento de uma ordem dada por outro, que era, na verdade, um privilégio. Achou que seria melhor se ele mesmo fosse o alvo e objeto da mesma adoração.

E assim alimentou essa ideia por algum tempo.

E viu que, mesmo passando o tempo, o Eterno permanecia o mesmo em sua atitude. Não mudava. Não lhe dava nenhuma honra adicional. E passou da insatisfação para a chateação. Passou a pensar em como poderia receber adoração.

E chegou a uma conclusão: só há um jeito. Estar no lugar do soberano. Só me prestarão adoração se eu for o dominador. Se eu me sentar no trono.

A partir deste momento, mudou de pensamento e passou a planejar em como faria isso. Soube que não poderia fazê-lo sozinho. Precisava desde já preparar o grupo que seria aquele que lhe prestaria adoração quando assumisse o trono do soberano. Ele queria os seres celestiais como súditos.

Mais do que isso. Precisava de um exército fiel que lhe desse respaldo no momento de tomar o poder. Que lutasse ao seu lado para derrotar o Criador.

E usou uma estratégia sutil e sorrateira.

Passou a alimentar o orgulho dos seres angelicais. O tratamento diferenciado que ele esperava receber por parte do soberano, a fim de sentir-se valorizado, passou a dar aos seus companheiros, aos cantores que liderava durante a adoração. Passou a elogiar alguns, em detrimento de outros. Passou a alimentar o sentimento de superioridade de seus companheiros. Semeou no seu íntimo o desejo de serem apreciados, de serem tratados de forma especial.

Então, aos poucos, cultivou nos seus companheiros a ideia de que o que faziam era importante e mereciam receber algo de especial em troca pelo que faziam. De maneira alguma valorizava e mostrava tudo o que já tinham recebido, mas alimentava em todos o desejo de mais, o desejo de buscar aquilo que não tinham.

E essa sedução correu por alguns milênios, sorrateiramente, nos lugares celestiais.

Então alguns deles começaram a sentir este desejo de retribuição.

Em outros, essa sedução era inócua. Boa parte dos seres angelicais estava tão plenamente feliz e satisfeitos pelo que tinham, que não lhes acendia no íntimo qualquer desejo de querer mais. Até porque, não precisavam de mais nada. A eternidade lhes bastava.

E como poderia não ser assim para alguém? !!

Como poderia a eternidade plena de alegria ainda não ser suficiente e boa para alguém?!!

Mas, para o anjo de luz rebelde e para aqueles que ele ia seduzindo, parecia que tamanho prêmio, da eternidade plena da presença do criador, não era mais o suficiente.

Queriam mais.

Desejavam receber o que não lhes cabia.

Mas desejavam mesmo assim.

E isso, aos poucos, durante alguns poucos milênios, foi-se tornando maior do que podiam controlar. Passaram a não mais ver a glória celeste com a mesma alegria de antes. Passaram a ver apenas o que não tinham. Olharam para a falta de honras pelo seu trabalho e não a honra de poder prestar adoração ao Soberano, de estar na sua presença, de morar na glória celeste, de receber a total e plenitude do amor em si.

Essa posição e tarefa já não era, por si só, motivo de alegria e plenitude. Cada vez mais, o grupo que queria mais, conforme a sedução de Lúcifer, crescia. Sem que eles mesmos percebessem.

Afinal, parecia tão justo e óbvio que eles merecessem ser elogiados e recompensados pelo que faziam. E o Soberano, sendo um Deus de justiça, não poderia ignorar esta verdade. O soberano era justo, todos sabiam. E pensavam que Ele não iria deixar de reconhecer, de forma justa, que eles mereciam uma recompensa pelo que faziam.

Mas todos eram recompensados. Só que alguns passaram a não perceber mais isso. Fecharam seus olhos para as recompensas que tinham.

Este sofisma era poderoso e ver apenas um lado da verdade tinha um poder devastador no discernimento dos seres celestiais que, aos poucos, iam se deixando levar pela sedução de Lúcifer. Não conseguiam ver que o soberano, de tão amoroso e justo, havia dado a eles tudo, mesmo antes de começarem a adorá-lo. A glória celeste, a plenitude da presença, a paz e tudo o que estava à sua disposição foram dados pelo Eterno e misericordioso mesmo antes de qualquer deles tomar qualquer atitude de adoração.

Mas parece que, aos poucos, esqueciam-se disso. Começaram a inverter a ordem, como se o Soberano lhes devesse algo por prestarem adoração. Como se fizessem um favor e não fosse, sua atitude de adoração, uma gratidão por tudo o que tinham.

E, porque se esqueciam, a rebelião crescia. Silenciosa e sorrateira.

Ia se infiltrando nos corações, à medida que Lúcifer semeava nos corações o desejo de receberem algo em troca pelo que faziam. E Lúcifer semeava aos poucos, sabendo que precisava de um terreno fértil a fim de poder colher os frutos de sua investida.

Aguardava o momento da tacada final. Mas o cenário era preparado.

Só que nem todos ofereciam, no íntimo, ocasião para fazer prosperar a intenção de Lúcifer. Muitos permaneciam silenciosos e resistentes à sedução feita. De forma consciente.

E ainda outros pareciam não perceber o que estava acontecendo.

Até o fatídico momento em que Lúcifer decidiu convocar a todos para a rebelião.

Houve aquele momento em que o perverso não quis mais esperar e pensou que já tinha influenciado o suficiente para ter ao seu lado um número de seguidores que lhe permitisse executar o seu intento.

E fez seu discurso geral, de convocação para que escolhessem ficar do seu lado.

No momento em que ele se levantou, Pai, Filho e o Espírito estavam no trono. E observavam os acontecimentos. Com tristeza, pois sabiam as trágicas consequências disso.

Mas era necessário que assim acontecesse.


Lucas Durigon


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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

7. Os Fieis

 

Miguel também era um ser celestial que havia vivido, como todos os outros, algumas centenas de milhares de anos em plena harmonia celeste, sem jamais ter presenciado nada além da bondade e amor, que sempre foram transbordantes no céu.

Em toda sua jornada, sua maior alegria sempre foi servir ao Soberano. A sensação de plenitude, de bondade, de amor em que sempre esteve imerso não lhe deixava dúvidas sobre ser o céu indiscutivelmente o melhor lugar para se estar e viver. Experimentando a glória celeste, Miguel jamais desejou, nem poderia, qualquer outro lugar, ou qualquer outra companhia senão a da Trindade santa.

Miguel sempre viveu, vivenciou e esteve imerso em sua dedicação em servir o Soberano, porque jamais passou pela sua mente, no seu interior, qualquer outra opção que não fosse servi-Lo. Miguel o fazia em êxtase, com seu interior sempre cheio de certeza de que essa era a única opção de existência, por toda a eternidade. Nem ele, nem qualquer dos seres celestiais que permaneceram, sem qualquer dúvida, fieis ao Soberano.

O desejo de servir ao Soberano por toda a eternidade era tamanho que nada mais pensavam os seres celestiais que foram fieis a Ele.

Por isso mesmo, quando o Perverso fez o convite, nenhum destes tiveram qualquer resquício de dúvida sobre o que fazer, por mais sedutor e convincente que tivesse sido seu discurso. O brandir de suas espadas em defesa do Trono do Soberano foi imediato e instantâneo porque jamais qualquer das situações propostas pelo Perverso tiveram lugar em seu coração. Nem mesmo o vazio da dúvida, o lapso da hesitação. Não havia nada neles que pudesse se alinhar ou se identificar com a proposta e convite do Perverso. Este não tinha nada do seu ser que se identificasse com o íntimo dos Fieis.

Assim como todos os seres celestiais, os Fieis também nunca tinha conhecido outra realidade e foram, repentinamente, expostos a esta opção e escolha, de se rebelarem contra o trono do Soberano. Mas, com o coração tão cheio e pleno da bondade divina, não havia espaço para dúvidas.

Logo após a separação dos grupos para definir-lhes o destino, o Soberano voltou-se para os fieis e deixou tudo bem claro para eles. Disse-lhes:

– Meus filhos e servos fieis: desde o início a possibilidade do mal sempre esteve latente, esperando para vir à tona. Mesmo que ainda não fosse uma realidade presente, que nunca tivéssemos vivido essa realidade, sempre esteve presente como uma possibilidade. Não podíamos suprimir ou extinguir essa possibilidade porque isso significaria a extinção da própria liberdade de escolha de vocês, a extinção do próprio livre arbítrio. Não pode haver possibilidade de escolha sem ter o que escolher, sem opções. Se a realidade da bondade e do pleno amor tivessem sido, desde o início, as únicas possíveis, jamais poderíamos saber quem nos serviu com amor sincero, jamais poderíamos saber quem de vocês realmente estavam unidos a nós por vontade própria.

Aos poucos, cada um dos seres angelicais ia percebendo que aquele teste, além de necessário, era um divisor de águas na história da criação. Um momento crucial que causaria grandes divisões, eternamente. O antes e o depois daquele momento jamais seriam iguais novamente. Nunca, nada seria como antes.

O Soberano continuou:

– Nós fizemos tudo para que o coração de vocês estivesse sempre pleno do que existe de melhor. Mas precisávamos deixar cada um seguir seus caminhos, fazerem suas escolhas no coração e definir o próprio destino. Alguns permaneceram fieis e cheios da bondade disponível. Outro grupo começou a deixar que o vazio e o mal tomasse conta e chegasse nesse momento da história da criação com seu interior vazio de bondade e cheio de rebelião e maldade. Outros parecem não terem se preocupado em definir bem o que estaria no seu interior e chegaram neste momento de forma indefinida.

Todos sabiam que o Soberano estava falando dos três grupos de seres angelicais, que agora representavam três destinos diferentes. E continuou:

– Mas, com tudo isso, depois de tanto tempo vivido aqui na eternidade, chegou a hora de ser colocado à prova o que realmente havia no interior de cada um de vocês. Assim como todos, Lúcifer também tinha a liberdade e escolheu fazer esta proposta a todos, levando um terço dos seres angelicais com ele. Não pedi, nem instiguei ele a fazer isso. Foi algo que nasceu no coração dele, porque sempre foi livre para escolher e sempre existiu a possibilidade de escolher me rejeitar. Mas vocês, igualmente tentados e provados, permaneceram firmes e fieis. Este foi um momento decisivo para todos vocês, meus servos fieis. Este foi o grande teste que definiu o destino destes dois grupos. Vocês agora precisam saber e entender que a escolha de vocês precisa ser mantida e confirmada.

Todos os seres angelicais fieis se curvaram perante o soberano e gritaram, com suas vozes, dizendo:

– Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos. Somos, fomos e seremos fieis a Ti para todo sempre. Nosso coração e nossa existência a ti pertencem e assim o fazemos com alegria.

A confirmação da fidelidade era necessária e importante. Estes seres angelicais jamais, em toda a existência futura, iriam trair a fidelidade ao Soberano. Não poderiam porque, além de terem conhecido a existência do mal, também conheceram a justiça e severidade do Soberano que lidou com o mal da forma como deveria. Eles nunca tinham visto as consequências do mal pela justiça de Deus porque nunca tinham visto o mal. Mas agora, conhecendo-o e sabendo quais as consequências, precisavam afirmar mais decididamente que permaneceriam fieis.

Eles viram a realidade do inferno e sentiram a ausência de amor nas trevas exteriores, sem a presença da bondade do Soberano. Sentiam-se com medo apenas de pensar que seus antigos companheiros celestiais teriam este destino e não poderiam, jamais, admitir que pudessem ter o mesmo destino. Tinham passado por este teste decisivo e isto tinha dado a eles a certeza com clareza, de forma nítida, que só valia a pena permanecer na presença do Soberano, na glória celestial.

O grupo dos fieis jamais usariam sua liberdade de escolha para ir a um destino tão terrível. A escolha que fizeram neste dia de teste, depois de conhecer as consequências de outra escolha, jamais seria revogada.

Eles permaneceriam fieis pra todo sempre.


Lucas Durigon


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segunda-feira, 12 de setembro de 2022

6. O Primeiro Teste

 


Quando Deus criou os seres celestiais, não lhes deu de imediato a possibilidade de conhecer a oposição ao bem. Só haviam conhecido o pleno amor e a plena bondade presentes em Deus. E, por isso mesmo, não conheciam as consequências de graves escolhas e por isso também um grupo ficou indeciso, porque não tinham ainda visto a oposição do bem. Para eles, tudo o que existia era o amor e a bondade. Não tinham a mínima ideia do que seria a maldade, a desobediência e suas consequências.

E isso tudo era bom, mas não sem conhecer o outro lado. Porque faz parecer que não existe possibilidade para outra coisa e que, independente das atitudes e escolhas, tudo continuará sendo bom indefinidamente. O que não é verdade. Se o mal penetrar, o que é bom deixa de ser completo e passa a dividir espaço com o que é mal. Mas eles, antes, não sabiam disso e foram pegos de surpresa pelas maquinações do perverso, porque não podiam discernir seus intentos, nem mesmo imaginar algo como o inferno, que jamais antes havia existido antes, em toda a criação.

Deus permitiu-se atender a um pedido de 2 guerreiros, entre os hesitantes, que diziam serem capazes de resistir à sedução do perverso. Diziam eles que gostariam de ser os primeiros a serem provados e propuseram que, se fossem aprovados, todos os hesitantes seriam perdoados de sua hesitação e poderiam voltar ao seu estado original.

O soberano, em sua justiça e misericórdia, mas já conhecendo as limitações que os hesitantes apresentavam, sabendo que a eles seria necessário dar uma oportunidade para fortalecer-lhes o caráter celeste, permitiu a estes dois guerreiros passar por este teste, que seria aplicado diretamente pelo perverso. Se eles fossem aprovados, todos os hesitantes, embora tivessem de passar pelo teste na terra, passariam por ele de uma forma muito mais breve e com muito menos trabalho.

O Soberano prometia-lhes a própria presença, em toda sua glória, diariamente em meio à matéria, para lhes ensinar sobre a glória celeste e levá-los de volta ao lar.

Se não fossem aprovados, a glória se retiraria deles e teriam de passar pelo teste apenas com os recursos materiais disponíveis e os recursos espirituais que estariam ocultos, pelos quais eles teriam que buscar, dia após dia, porque teriam optado, durante o teste, pela sedução do perverso ao invés da glória do soberano.

Mesmo assim, em toda sua glória e misericórdia, o Soberano ainda lhes daria a chance de fazer o teste durante o tempo de sua vida na terra.

Sioni e Tiulani, os quais pediram para serem os primeiros, seriam então submetidos a um teste, feito por satanás, sem lembrar do que antes tinha acontecido no céu, a fim de dizer se poderiam novamente cair na tentação e sedução de satanás, se tivessem tempo para argumentar. Não seria tão rápido e instantâneo quanto havia sido no céu e, a possibilidade de não serem pegos tão de surpresa fazia-os acreditar ser possível vencer, desta vez.

Diziam que o soberano havia sido muito duro em julgar sua hesitação de menos de 1 segundo. E sofrer uma pena eterna por causa de uma atitude tão repentina e intempestiva era um julgamento muito duro.

Então o soberano e misericordioso lhes impôs um teste em que poderiam argumentar com o perverso e saber se seriam aprovados.

Disse ainda que a condenação, neste caso, não viria imediatamente. Mas que, por viverem uma nova realidade onde não se lembrariam da glória e majestade celestiais, poderiam ter a chance da remissão e perdão para o seu erro, ao serem provados numa vida material na terra, sem a consciência e conhecimento prévios da glória. Teriam de conhecer pela busca e aprender com esforço sobre o que era essa glória, a fim de desejarem, com todas as forças do seu interior, voltar para lá.

Se não passassem no teste com o perverso, então Deus não andaria com eles na terra a fim de mostrar mais rapidamente a realidade da glória celeste, a fim de poderem voltar ao seu lar redimidos. Mas ainda assim, poderiam ter um tempo para o arrependimento e a mudança de atitude. Diferente no teste que foi feito no céu, quando sua atitude, numa fração de segundo, já determinou seu destino, agora a atitude poderia ser redimida, haveria tempo para uma correção de atitude, uma vez que o conhecimento era limitado, não era também justo que fossem cobrados e condenados de uma única vez.

Se fossem aprovados neste teste inicial, então o próprio soberano andaria com eles, em toda sua glória, a fim de mostrar-lhes as grandezas celestiais, as quais haviam sido resetadas de suas memórias e poderiam passar pela prova mais rapidamente e sem tantos sofrimentos.

O teste para eles, na terra, ao serem colocados para ali viver, consistia em terem tudo à disposição para sua plena vida, mas também uma única oposição, em forma de uma única ordem dada pelo Soberano, para que não viessem a desobedecer. De imediato, seriam apresentados à possibilidade da escolha e da oposição. Mesmo assim, a abundância de benefícios e permissões em muito superavam 1 única possibilidade de errar. Apenas uma ordem de proibição, frente a outras tantas de permissão, para saber se a escolha que fariam consideraria todos estes benefícios.

E parecia fácil. Uma árvore apenas proibida. Tudo o mais era permitido e desfrutável. Bastava olhar e desfrutar de todo o resto, ignorando o proibido, que tudo seria novamente envolto em bênçãos. Quando os hesitantes souberam qual seria o teste, animaram-se em extremo, acreditando que, desta vez, não iriam errar. Mas este excesso de confiança era uma das fortes características daqueles que hesitaram no momento da escolha crucial. E seria sua fraqueza. Porque subestimaram o poder de sedução do Perverso que, no céu, com toda a glória celeste, ainda foi capaz de convencer e seduzir 1/3 de todo o exército celestial. Eles deviam se lembrar disso.

Ao serem colocados na terra, num jardim mais especificamente, receberam as ordens de Deus para não tocarem especificamente na árvore que continha o fruto do conhecimento do bem e do mal. E então apareceu o perverso, na forma de uma serpente e, com uma rápida conversa, convenceu Tiulani que estender a mão para a única coisa proibida era mais vantajoso. E Tiulani acreditou e ainda convenceu Sioni.

Desobedeceram.

Diante de tantas possibilidades permitidas de alegria e plenitude, foram seduzidos pelo Perverso e cederam.

Eles não passaram no teste.

O perverso mostrou-se muito sedutor, ao lhes apresentar argumentos que os convenceram que seria melhor se tentassem provar aquele gostinho de se tornarem iguais ao soberano.

Sioni recebeu, na terra, o nome de Adão, o primeiro homem. E Tiulani passaria a ser Eva, a mãe de todos os viventes, porque agora, depois deste primeiro fracasso, não seria mais Deus quem colocaria cada um na terra, diretamente. Mas cada um deles viria à terra, tendo de ser gerado e cuidado por um outro ser, que seriam agora seus pais segundo a carne. E, para trazê-los a este mundo, a fim de dar-lhes a chance de serem testados, cada mulher nesta terra passaria pela concepção e parto, trazendo-lhe dor, cada homem teria de lutar pelo seu sustento e eles teriam de perceber o que perderam, teriam de perceber que tudo o que tinham no céu, sem nenhum esforço, agora tinha de ser conseguido com dureza e dificuldade. Inclusive a possibilidade de voltar a habitar a glória celeste, pois tudo o que tinham de conhecimento da grandeza e glória do Soberano, agora teriam de buscar com todas as forças, com todo o coração, com todo o entendimento, para recuperar sua habitação.

Quando todos os hesitantes souberam que os grandes e fortes guerreiros Sioni e Tiulani não foram capazes de discernir e vencer o teste proposto pelo Perverso, ficaram atônitos e perceberam com um pouco mais de profundidade que tal sedução e poder de persuasão era mais forte do que haviam imaginado. Perceberam que teriam de ter muito mais cuidado e atenção do que imaginavam. E lembraram-se que todos este conhecimento e conclusão feitos agora no céu não seriam de muito proveito durante o teste, uma vez que toda sua memória celeste não poderia ser usada enquanto passassem pelo teste.

Agora era a vez de cada um dos outros passarem pelo teste.


Lucas Durigon


Esta  é uma obra de ficção. Iniciada em 07/08/22.

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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

5. O Teste

 


Após dirigir-se aos três grupos para lhes definir o destino, o Soberano explicou melhor a natureza e objetivo deste teste ao qual submeteria aqueles que haviam hesitado.

Disse-lhes que prepararia um lugar, não de natureza espiritual como o céu onde habitavam agora. Seria um lugar material, feito de átomos e matéria, como o presente no Universo que criara, que havia até então sido apenas objeto de contemplação de todos eles. Seria, a partir de agora, não apenas objeto de contemplação, mas local de vivência e de morada para aqueles que seriam submetidos ao teste.

Eles ganhariam um planeta inteiro para morar, preparado com amor e com todos os recursos necessários para dar à matéria condições de existência.

O Soberano lhes explicou que a essência do seu ser e de sua alma lhes seguiriam, mas que sua mente e memória não lhes permitiriam recordar de forma exata, completa e clara, quem eles eram, nem tudo o que haviam vivido até ali.

– Vocês habitarão um corpo material, viverão num mundo material, sem a memória clara de toda glória celestial e terão de me provar que desejam, realmente, viver pela eternidade ao meu lado, com lealdade e amor, a fim de poderem retornar para cá, após este teste da vida, e podermos novamente habitar juntos e retomar nosso convívio normalmente, com a plena glória e amor que conhecem.

Após esta explicação inicial do Soberano, muitos ainda estavam com dúvidas. Embora tivessem visto e contemplado a matéria, não tinham a menor ideia de como viver nela e interagir com ela. Algumas dúvidas surgiram e alguns ousaram perguntar. O Soberano, misericordioso e compassivo, compreendeu que houvessem dúvidas e, embora pudesse ter explicado tudo antes que qualquer um levantasse um questionamento, pois já conhecia quais eram as dúvidas nos corações de todos, escolher dar-lhe a oportunidade de interagir e perguntar, para deixar bem claro nesta atitude que seu relacionamento continuava de Pai e filhos, de criador, um relacionamento de amor, que permitia o questionamento respeitoso, a fim de dar paz a um coração cheio de dúvidas. O soberano não impediria os questionamentos, não cortaria o relacionamento, não bloquearia totalmente a comunicação por sua própria iniciativa, a não ser que seus filhos escolhessem bloquear este relacionamento pela desobediência e rebeldia às suas ordens.

Então, um dos arcanjos, perguntou:

– Mas Senhor, teremos nesta matéria que dizes o alimento que emana de Ti e nos sustenta em todo o tempo aqui? Seremos sustentados pela tua luz e conseguiremos sentir essa força e energia que temos, vindas do seu íntimo para nós, como percebemos a todo momento, aqui na tua presença?

O Criador falou pelo Filho, neste momento, e respondeu.

– Na matéria e por causa de estarem passando pelo teste, terão de dar atenção a dois tipos de alimento: o material e o espiritual. Como terão, além de sua natureza espiritual, um corpo também material, terão de alimentar ambos. No local onde passam a viver, receberão todos os recursos necessários para ter o alimento para seu corpo material. Lá, o alimento será feito de estruturas atômicas da mesma natureza de toda criação da matéria presente no Universo, arranjadas de tal forma que possam dar a vocês também o prazer de vivenciar esta busca pelo alimento. Deixaremos tudo pronto e colocaremos tudo à sua disposição, preparado pela Terra, para que possam pegar e se alimentar. Mas não receberão isso em seus corpos como aqui, automaticamente. Terão de colher e comer. Também estará à sua disposição todo o alimento espiritual e estaremos com vocês para lhes oferecer isso, mas não será colocado em vocês, sem que busquem ou peçam por isso. Terão de pedir, usando a oração, por alimento espiritual e fortalecimento para vossas almas.

O Filho explicava e todos tinham o entendimento de tudo isso, mas ainda não podiam saber plenamente, por ainda não terem vivenciado nem experimentado tudo isso. Perceberam também que, tendo, durante toda a eternidade, tudo isso à disposição de forma plena e sem que tivessem necessidade de buscar por isso, perceberam então que não haviam dado o devido valor a tudo o que sempre tiveram. Agora, embora estivesse à sua disposição, teriam de demonstrar que realmente queriam e teriam de buscar pelo alimento que os mantinha vivo. Não receberiam mais automaticamente a essência para ser e existir. Teriam de cuidar disso para dar valor e poder entender que tudo o que haviam tido foi por eles desprezado e agora pagariam o preço do teste. Mas o Filho continuou.

– Porque vocês hesitaram e não souberam entender o real valor de tudo o que sempre tiveram à sua disposição aqui na glória celeste e tudo o que o nosso amor sempre lhes proporcionou, o teste consiste e mostrar-nos que vocês realmente querem voltar a ter isso. Portanto, precisarão buscar por alimento material e espiritual, com todo o desejo do seu coração. Vamos instigá-los a isso porque sentirão a necessidade desta busca, visto que a falta destes alimentos irá enfraquecê-los e desejarão o alimento material e o espiritual, pelo qual pedirão. E daremos a vocês. Mas precisam querer e desejar e buscar e pedir. Se o fizerem de todo o coração, veremos que realmente estão entendendo o valor de tudo o que sempre lhes demos. E, se acrescentarem a esta busca a gratidão por terem obtido, certamente tornarão a jornada diária desta busca muito mais suave e próspera do que se apenas tomarem para si aquilo que colocarmos à sua disposição.

Daqueles que teriam de passar pelo teste, os hesitantes, muitos deles realmente refletiram sobre o fato de terem sempre tido tudo à sua disposição e de como tudo isso era-lhes ofertado graciosamente sem que nada precisassem fazer para obter e começam a realmente questionar a si mesmos, em como puderam hesitar, como puderam, mesmo por um tão pequeno espaço de tempo, ousar em pensar seguir a sedução do Perverso e o porquê teriam hesitado naquele tempo. Alguns até pensaram em pedir, ali mesmo, logo no início deste esclarecimento, que o Soberano lhes desse mais uma chance ali no céu, sem que precisassem passar por este teste e queriam reconhecer ali que haviam cometido um erro. Mas, o Soberano, conhecendo seus pensamentos, antecipou-se a esclarecer.

– O teste é necessário. Alguns de vocês agora pensam que dão valor a tudo isso, mas a hesitação aqui demonstrada nos revela que ainda não estão preparados para dar o real valor a todos os presentes que lhes demos. Ao passar pela experiência de terem de pedir e buscar pelas suas necessidades, poderão entender muito mais claramente a grandeza de todos estes benefícios e, quando aqui voltarem, para aqueles que forem aprovados, estarão plenamente convictos de que não há lugar melhor para estarem do que juntos comigo e plenos de todas estas bênçãos. Nunca mais hesitarão, após este período. Será um teste intenso, mas definitivo.

Esta palavra do Soberano lembrou-lhes de outra questão: e se não passassem no teste, e se não conseguissem suportar as agruras da vida na matéria. E se a hesitação se transformasse em desistência ou afronta ou rebeldia ou ingratidão. Então, outro anjo perguntou, apreensivo.

– E se não passarmos no teste?

Ao que o Filho respondeu:

– Daremos todas as condições para todos vocês, igualmente, poderem passar no teste. Preparamos tudo, para que tenham todas as condições para voltarem a dividir conosco desta glória celeste. Mas temos de ser justos. Para aqueles que insistirem numa atitude de ingratidão, de não reconhecerem tudo o que colocamos à sua disposição, não terão motivos para voltar aqui. Para aqueles que não souberem ou não conseguirem dar valor a esta habitação e todas as bênçãos que ofertamos, entenderemos então que para estes, não há importância e, porque não sabem dar valor a tudo isso, então não precisam usufruir de tudo isso. Serão lançados, junto com o grupo de anjos rebeldes, no lugar onde não há nada disso. Onde a ausência da nossa presença e amor causará dor e lamento. Onde a ausência de luz implica na existência de trevas, dúvidas, incertezas, medos. Onde a completa ausência de altruísmo gera total egoísmo.

Ao que outro anjo perguntou:

– Que lugar horrível seria esse. Como se chama esse lugar?

E o filho respondeu.

– Chama-se INFERNO. O único lugar onde escolhemos não estar.

Todos se entreolharam com bastante apreensão estampada nos rostos, sem entender direito o significado daquelas palavras, porque nunca haviam entrado em contato com isso tudo, nem tampouco imaginavam o que, na prática, elas significavam por nunca terem experimentado estas sensações. Imaginaram que tudo isso seria muito ruim, embora não entendessem direito o que representava algo ruim. Mas sabiam, lá no fundo, que não seria algo bom de se experimentar. Outro anjo perguntou:

– Senhor, por amor e misericórdia: é realmente necessário que seja assim?

E, com muito amor, o Espírito agora respondeu a todos.

– O que gerou sua hesitação aqui e fez com que pensassem, mesmo que por um pequeno momento, em seguir a rebelião do Perverso foi o fato de não entenderem plenamente as bênçãos de que sempre usufruíram. Experimentar e conhecer só um lado dificultou para vocês entender a grandeza de tudo o que têm. Não conhecer, até hoje, nenhuma alternativa de vivência ou existência, vivendo plenamente e sempre o amor e a bondade fez com que esquecessem o real valor de tudo isso. A falta do entendimento do que é o bem e o mal fez com que vocês não entendessem a grandiosidade de todo o bem que sempre tiveram à disposição por estar em nossa presença. Sua experiência será difícil, mas muito importante. Porque apenas saberão a real grandeza do belo quando conhecerem o horror. Só entenderão o significado da plenitude quando conhecerem a escassez. Só darão valor ao amor quando forem testados no pecado. Só enxergarão plenamente a luz quando experimentarem as trevas. Estes contrastes e dicotomias darão a vocês a clareza para a escolha. Mostrarão se realmente desejam escolher um lado e deixar o outro. Porque não podem ficar com as duas coisas. E sua hesitação demonstrou que talvez desejassem isso. Mas precisam estar convictos daquilo que realmente desejam por toda a eternidade. E este teste os ajudará nisso. Será bom para vocês, no final.

Apesar destas palavras consoladoras, a apreensão ainda estava presente. Entenderam que tudo era importante e necessário, mas este desconhecido realmente parecia ser assustador. Como viver sem a presença da glória do Soberano? Como poder imaginar passar um segundo sequer sem sentir aquela bondade? Como suportar as trevas? E como é que fariam para ter de buscar o alimento, se sempre o tiveram dentro de si, sem qualquer necessidade de conquistá-lo? Eram muitas dúvidas, mas o Espírito ainda lhes garantiu que no tempo certo entenderiam tudo. Disse-lhes:

– Não se atemorizem. Aos poucos tudo se esclarecerá. Confiem em mim. Não tenho o desejo de que sucumbam a tudo isso, senão que vençam tudo e voltem pra mim. Todo meu amor continuará à sua inteira disposição. A única diferença é que agora terão de me dizer que o desejam, terão de buscar, terão de fazer escolhas. Até agora, nenhuma escolha foi exigida de vocês. Por isso foram pegos de surpresa ante a sedução do perverso e não souberam como reagir e hesitaram. Agora, terão clareza que existência de escolhas e poderão decidir por si mesmos. O meu fôlego de vida estará em vocês e os instigará à bondade. Apenas sigam meus sinais.

Estavam ainda todos tentando entender.


Lucas Durigon


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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

4. Mevial chega à Vida

 


O momento em que Mevial se atirou da glória celeste para o seu teste na Terra foi realmente marcante. Sem dar nem tempo para perceber, viu-se longe do céu e agora, sem ter mais a visão de tudo à sua volta, estava num lugar escuro, pequeno, apertado e molhado. Surpreendia-se com todas aquelas sensações proporcionadas pelos sentidos da matéria.

Em sua memória, ainda restavam flashes de um céu, de uma glória, de um imenso exército celestial adorando o Soberano. Mas, aos poucos, estes flashes ficavam mais e mais apagados, tornando-se vislumbres distantes, até desaparecerem por completo.

Neste exato momento, em que todas estas lembranças e imagens apagavam-se de seu ser, passou a sentir coisas diferentes. Não mais lembrava das batidas dos instrumentos de percussão do céu, mas passou a sentir, dentro de si, uma batida ritmada que, não sabia ele naquele momento, mas o acompanharia por toda sua vida. Neste exato momento em que todas as lembranças da eternidade, após 3 ciclos de 7 dias foram apagadas da sua memória, neste exato momento passou a sentir uma batida ritmada, dentro de si, como se fosse, realmente, um compasso de ritmo que o acompanharia. Seu coração, na formação de sua vida na matéria, começara a funcionar. Passara a ter então sensações que antes jamais havia sentido: molhado por fora, quente e aconchegante por dentro, passou a viver as sensações de estar num corpo físico. Limitado em diversos aspectos, mas com novas e diferentes sensações, que nunca sentira, possíveis apenas com a ajuda da matéria.

Começou a tentar entender e desvendar o que era aquilo tudo. Nunca havia estado em um corpo material. Também não se lembrava mais do que era ser um ente celestial, eterno e vivendo as glórias do céu. Agora precisava decifrar o que significava aquela nova realidade.

Aos poucos, à medida que se formava esse corpo, ainda informe, que nem ossos tinham ainda, ia percebendo e descobrindo novas e incríveis sensações. Em pouco tempo, após sentir o ritmo da batida do seu coração, o líquido na sua pele, o calor circulando dentro de si, passou também a poder mexer membros e tocar o pequeno mundo ao seu redor.

Pensou, neste momento que tinha uma vida para viver ali e que precisava explorá-la para entender tudo o que estava acontecendo. À medida que o tempo passava, um turbilhão de sensações e emoções se acumulavam dentro de si. Sons chegavam até ele, vindo de algum lugar desconhecido e, aparentemente distante. Juntaram-se ao ritmo de suas batidas, agora melodias e harmonias, palavras e sussurros, os quais ele não entendia nem sabia o que significavam, mas que os podia sentir e perceber. Sabia que vinham de um lugar distante, mas não sabia de onde.

Começou também a perceber que podia tocar o mundo ao seu redor. E, percebendo isso, em algum momento tocou sua própria perna, percebendo que podia interagir consigo mesmo. Iam-se formando seus membros, capacidades de sentir, ouvir. Passou a poder enxergar brilho com novos instrumentos que ficavam à frente de seu rosto e também poder ingerir líquido através do orifício que seria sua boca.

À medida que se formava, preparando-se para uma outra fase, quando veria a luz externa e poderia interagir com outros seres, pensava ele que aquela vida que tinha naquele pequeno local era tudo o que lhe aguardava nesta nova experiência. Procurava entender como usar seus braços, pernas, mãos e pés. Procurava distinguir sons e imagens, mas tudo era bastante indefinido e opaco. Pensava consigo mesmo: que vida interessante. Preciso aprender a usar melhor todos estes instrumentos, porque não me dão muitas informações. Pensou que talvez estivesse usando todas as suas qualidades e capacidades da forma errada.

E crescia. Como crescia rápido. Em um período de 9 meses atingiu um tamanho milhões de vezes maior do que quando iniciou esta jornada. Junto com este estrondoso e célere crescimento, vieram muitos aprendizados, para que seu novo corpo pudesse realizar todas as tarefas necessárias.

Lames, seu amigo que agora estava acompanhando ele de perto, observando toda esta desenvoltura, não podia deixar de se maravilhar e perceber como o Soberano havia sido pródigo em fornecer recursos, experiência, dons e tantos presentes para que seus companheiros pudessem passar por este teste. Mesmo com a dureza do teste, Lames extasiou-se em ver a bondade e misericórdia do Soberano em proporcionar aos humanos tamanha gama de possibilidades e experiências, para que pudessem escolher seu caminho e retornar à original habitação. Pena que muitos humanos demorassem tanto para perceber a grandiosidade disso que o Soberano lhes havia dado: a VIDA. E outros sequer perceberiam isso, mesmo vivendo toda a esta vida, por muito tempo.

Mevial não sabia que aquele era um momento de preparo para uma nova fase de sua vida. Pensou que era ali, naquele lugar, o destino final de toda sua existência. Que teria de usar todos os seus membros naquele pequeno espaço. Mas, à medida que crescia não conseguia mais esticar os braços. Passaram a ficar encolhidos. Apertados. Às vezes, quando tentava um pouco mais e forçava os limites da sua habitação, sentia que vinha uma repreensão vinda de fora, como que ordenando que parasse de tentar se esticar.

Então, por um momento, parava.

Mas o espaço estava ficando realmente pequeno. E ele não mais conseguia ficar ali. Não adiantava tentar expandir o tamanho desta sua habitação porque, aparentemente, ela não aumentaria mais, apesar de todas as suas tentativas. Começou a ficar um tanto sufocado e pensar que era hora de sair dali, que naquele espaço não havia mais espaço para ele.

Então, num momento em que buscava esticar-se, encontrar a saída, percebeu que sua própria habitação o empurrava para fora.

Pensou consigo mesmo: “eles querem me expulsar daqui”.

E, não só queriam, mas faziam força para que ele saísse.

Finalmente, embora ele pensasse que aquele seria o local de sua vivência, que tudo viveria dentro daquele pequeno espaço, percebeu que era apenas um local de transição, de passagem. De preparo. Não era definitivo.

Então saiu. Ou melhor, foi empurrado para fora.

Viu a luz sem a opacidade de antes, mas brilhante e clara. Ouviu sons nítidos e altos. Sentiu o toque na sua pele, muito mais intenso do que sentia antes.

Sentiu o ar enchendo seus pulmões. E chorou.

Agora sim, estava no local onde viveria sua vida, o local definitivo. Tinha muito mais luz, muitos outros seres, um espaço que parecia infinito ao seu redor.

Mas perceberia, embora demorasse mais do que os 9 meses do tempo vivido no espaço anterior, que essa nova vida também não seria definitiva.

Era transitória. Uma passagem. Perceberia depois que havia ainda um outro lugar depois disso. Esse sim eterno, ilimitado, infinito, glorioso. Mas isso demoraria um pouco para perceber.

No momento, importava apenas o fato de iniciar esta nova jornada.

Tinha nascido. Tinha vindo à luz. E iniciaria uma aventura sem precedentes.


Lucas Durigon


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